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Ataques à imprensa e o vírus perigoso do jornalismo chapa branca

A imprensa está sob fogo cruzado em todo o mundo (o exemplo de truculência do Trump com a mídia ganha adeptos em vários países) e principalmente no Brasil. Governantes e autoridades em geral, que não toleram a crítica e que gostariam de submeter a imprensa aos seus caprichos, buscam sufocá-la de todas as formas. Para obter o seu intento, proíbem que jornalistas de determinados veículos possam cobrir as coletivas oficiais, não permitem que grupos jornalísticos participem de licitações e, em casos extremos, ameaçam com represálias as empresas que anunciam em meios de comunicação tidos como adversários.

Como sabemos, nada disso funciona porque a sociedade civil está atenta a qualquer investida que ponha em risco a liberdade de expressão, restrinja o debate democrático de ideias e posições, direito inegociável e que figura na nossa Constituição. O Judiciário brasileiro já deu provas de que não pactua com esta postura autoritária no caso do The Intercept.

A imprensa certamente comete falhas e, infelizmente, num país tão desigual, não é incomum encontrar jornais, revistas, emissoras de rádio e TV e mídias digitais que se colocam ao lado dos poderosos, mais preocupados em aumentar os seus lucros do que em consolidar a democracia. Logo, dar as mãos a determinados monopólios da comunicação nem sempre é a melhor alternativa. É preciso exercitar o espírito crítico para não legitimar, sem critério, organizações que, apesar do discurso em contrário, “tem o rabo preso” com interesses espúrios.

Na verdade, a imprensa chapa branca, instituição secular no Brasil, constitui um vírus perigoso que solapa a ética, a transparência e a qualidade da informação na ânsia de servir aqueles que detêm o poder e a presenteiam, escandalosamente, com generosos recursos públicos.

Defender a liberdade de imprensa é um direito de todos nós porque, embora imperfeita, a mídia, quando independente e comprometida com a cidadania, presta um serviço inestimável para a nação brasileira.

É indispensável que sindicatos, organizações da sociedade civil, e os brasileiros em geral, estejam mobilizados para resistir a essa nova escalada contra a imprensa e os jornalistas, repudiando qualquer tentativa de inviabilizar o seu trabalho.

É preciso denunciar todas as tentativas de calar a imprensa, assim como é fundamental acompanhar a movimentação da mídia monopolista e dos veículos e jornalistas que abrem mão da sua integridade para servir às autoridades de plantão.

A democracia se realiza integralmente quando a diversidade de ideias, e não a censura, é assumida como pressuposto básico. As autoridades que desejam a todo custo cercear a imprensa merecem o nosso repúdio. Elas passarão e no futuro restarão abandonadas como coisa velha e inútil no porão da história.

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.