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A Comunicação Organizacional do futuro precisa de menos tecnologia e mais mentes pirralhas

Muitos estudiosos que definem as tendências da Comunicação Organizacional para as próximas décadas cometem, invariavelmente, o mesmo equívoco: defendem o uso intensivo de tecnologia, saúdam, acriticamente, os recursos fantásticos apoiados em inteligência artificial e creem, ingenuamente, nos milagres potencializados pelas mídias sociais e assim por diante. Mas se esquecem do básico, daquilo que constitui a própria essência da Comunicação Organizacional: o respeito à pluralidade, à diversidade de ideias e opiniões, a importância do feedback e a valorização do diálogo.

As novas tecnologias e, especialmente as mídias sociais, têm permitido avanços, reais no universo da comunicação, mas ainda não conseguiram eliminar o autoritarismo das chefias, a arrogância das elites e a intolerância dos que não concordam com as posições contrárias às suas. Pelo contrário, elas têm contribuído para o individualismo (e o egoísmo) exacerbado em detrimento do trabalho coletivo, têm favorecido o surgimento de pretensos “influencers”, com discursos vazios e posturas inadequadas, além de gerar ataques cibernéticos com o objetivo de sufocar vozes e de ameaçar a democracia.

Apenas os recursos propiciados pela automação dos processos de circulação de informações não garantem uma comunicação democrática e competente porque ela não depende dos robôs, dos bancos de dados e dos sistemas de rastreamento das informações, utilizados pelos monopólios globais da comunicação para invadir a nossa privacidade.

É fundamental que a comunicação organizacional contribua para a implementação de uma cultura alicerçada na confiança, na convivência pacífica, e que todos os comunicadores estejam comprometidos verdadeiramente com os valores que legitimam a cidadania, os direitos humanos, a sustentabilidade e o desenvolvimento pessoal e profissional.

Não serão os experts em tecnologia da informação ou os arautos da inteligência mediada pelas máquinas que nos conduzirão a um novo patamar na Comunicação Organizacional, mas nós mesmos, mobilizados para o debate democrático e para a superação das desigualdades e das injustiças.

Tudo bem: pode ser até utopia acreditar que governantes, empresários e sobretudo políticos profissionais irão abrir mão de seus privilégios em favor de um mundo melhor, mas as utopias, ainda que irrealizáveis, nos fazem seguir em frente. É melhor apostar nelas do que alimentar desesperança e não reivindicar as mudanças necessárias. Que 2020 traga muitas pirralhas também para o campo da Comunicação Organizacional e que elas nos façam, com sua coragem e lucidez, entender definitivamente que, sem diálogo e tolerância, não construiremos um futuro promissor para as novas gerações.

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.