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A comunicação organizacional em tempos de pandemia: a supremacia da tecnologia e a “síndrome da cloroquina”

A pandemia impactou dramaticamente o mundo do trabalho, assim como provocou mudanças significativas nos hábitos e posturas dos cidadãos de todo o mundo, como, por exemplo, nas formas de relacionamento com os nossos amigos e familiares.

A comunicação organizacional não ficou impune (muito pelo contrário) e tem sido submetida a alterações em sua rotina tradicional, com destaque à exigência do distanciamento social, indispensável para impedir o incremento da contaminação pelo vírus. A chamada “nova normalidade” se impôs e, em particular, os comunicadores, têm sido obrigados a rever os seus conceitos, adaptando-se a uma dinâmica que, pelo menos por enquanto, parece sinalizar para um processo de “transição permanente”.

É preciso, no entanto, ter presente que, como toda crise, esta propiciada por um vírus silencioso e letal, aponta também para oportunidades e tem gerado alguns resultados promissores. Podemos apontar alguns deles.

A comunicação se mostrou efetivamente estratégica, assim como se consolidou a convicção de que é fundamental a produção e a circulação de informações qualificadas, sobretudo num momento que têm se caracterizado pelo terreno pantanoso das fake news. O jornalismo de qualidade se fortaleceu, provocando, inclusive, a revitalização dos meios de comunicação tradicionais, essenciais para o processo de esclarecimento e debate.

A tecnologia reafirmou a sua supremacia, provendo soluções que têm contribuído, de forma decisiva, para que, embora distantes e muitas vezes isoladas, as empresas e organizações continuem interagindo com os seus públicos estratégicos e a sociedade. Novas plataformas (Zoom, Google Meet) ganharam corpo favorecendo a manutenção das conversas, dos diálogos, e permitindo que dados, informações, conhecimentos e experiências sejam compartilhados.

As mídias sociais evidenciam, mais do que nunca, o seu protagonismo, ainda que também, como sempre, sirvam para que pessoas e governos mal intencionados incentivem a desinformação, instaurando o que podemos chamar de “a síndrome da cloroquina”. Ela significa que, por motivos políticos, empresariais ou pessoais, o “achismo” tem buscado se sobrepor às evidências, gerando o caos informativo que compromete a compreensão da realidade.

Os dramas vividos por pessoas e famílias em todo o planeta têm feito com que percebamos a importância de reconhecer os cidadãos como sujeitos e protagonistas da história, assim como escancaram as desigualdades sociais e a falta de empatia e de solidariedade de governantes e autoridades.

Muitas empresas (a indústria tabagista, as instituições financeiras, para só citar dois casos evidentes) buscam utilizar a tragédia da pandemia para desencadear ações mercadológicas, num atestado claro  de que não conseguem contemplar outra coisa além de seus lucros e da sua ganância.

A comunicação organizacional certamente tem caminhado por atalhos sinuosos, enquanto empresas, especialmente as mais vulneráveis, sucumbem à agressividade do vírus, gerando uma legião interminável de desempregados.

Não há dúvida de que precisaremos de um bom tempo para “juntar os cacos” e que muitas organizações terão dificuldade para agrupar de novo os seus “colaboradores”, especialmente aquelas que se aproveitaram do covid-19 para reafirmarem o seu autoritarismo. Não foram poucas as que submeteram os seus funcionários ao constrangimento e ao risco de jornadas perigosas e que só foram freadas pelo bom senso de prefeitos, governadores, entidades, especialistas e de órgãos da mídia que têm feito campanha intensa pelo “fique em casa”.

O ditado popular “nada será como dantes no quartel de Abrantes” se aplica a este momento e esperamos que as consequências negativas desta pandemia sejam menos dramáticas do que aquelas que todos nós, isolados e tensos, podemos, agora, imaginar.  Com certeza, com a ajuda da ciência, mais valorizada do que nunca (até que enfim!), esse momento ruim vai passar. A tecnologia, as mídias sociais, a solidariedade de muita gente generosa têm contribuído para que consigamos resistir, mas (fala sério!) o que todos mesmos queremos é abraçar de novo os nossos pais e filhos, os nossos amigos e os nossos colegas de trabalho. O distanciamento social (importante e indispensável) tem mostrado como era bom (e será bom) estarmos de novo juntos, de mão dadas.

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.