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A divulgação da pesquisa científica depende da capacitação e do compromisso das fontes

Os exemplos emblemáticos de empresas, institutos, universidades e fundações com reconhecida competência na divulgação das pesquisas que realizam são raros. É imperioso destacar, por exemplo, a Embrapa, a Fiocruz, as universidades estaduais paulistas e muitos programas de pós-graduação, que, pelo empenho de seus pesquisadores, com o apoio de estruturas profissionalizadas de comunicação, conseguem dar ampla visibilidade aos projetos de investigação.

A realidade brasileira, no entanto, está muito longe disso. A maioria dos centros produtores de conhecimento não consegue (muitos talvez não estejam mesmo interessados) dar visibilidade às suas pesquisas de modo que sejam acessadas e conhecidas por segmentos representativos da sociedade civil.

A comunicação dos resultados de pesquisa acontece, quase sempre, em um círculo restrito, formado por integrantes da comunidade científica, e geralmente se vale das publicações (periódicos) e de eventos especializados (congressos científicos).

Esta condição explica por que o cidadão comum desconhece a contribuição valiosa da produção científica e tecnologia nacionais e, consequentemente, é incapaz, em sua esmagadora maioria, de citar um cientista brasileiro qualquer. Em muitos casos, acaba engrossando a opinião de governantes mal informados que ignoram e não reconhecem a competência do pesquisador brasileiro e não se mobilizam para a defesa da ciência, tecnologia e inovação desenvolvidas em nosso país.

A divulgação da pesquisa científica é fundamental para o processo de democratização do conhecimento e para a educação científica e depende, além das condições de apoio e financiamento à pesquisa, do compromisso daqueles que produzem ciência.

Um contingente expressivo de pesquisadores, na área pública e privada, não está consciente da importância deste processo e muitos resistem em prestar contas do trabalho realizado à sociedade, mesmo sabendo que são os cidadãos, com os impostos que pagam, responsáveis pelos seus salários e pelo financiamento de suas pesquisas.

O sucesso do processo de divulgação científica depende, também, da capacitação do pesquisador ou cientista para o trabalho de relacionamento com a mídia tradicional ou mesmo para atuar nas mídias sociais, onde pode figurar como protagonista, livre, portanto, das mediações jornalísticas.

Esta capacitação inclui a competência em comunicação, ou seja, o pesquisador deve estar disposto e em condições de dialogar com públicos não especializados, adaptando as suas falas e escritos ao universo de conhecimentos e ao nível de linguagem do cidadão comum. Além disso, quando se reporta à mídia de massa (jornais, revistas, rádio, TV, portais), o pesquisador precisa ter conhecimento mais do que trivial sobre o processo de produção jornalística, do “timing” da imprensa, dos processos básicos de coleta (entrevista), edição e veiculação do noticiário.

Esta capacitação (que pode ser incrementada a partir de programas de media training, também denominados de treinamento para porta-vozes) permite ao pesquisador atuar com desenvoltura no processo de divulgação de suas pesquisas e eliminará incompreensões (e mesmo preconceitos) que costumam caracterizar a sua relação com os jornalistas. Ao mesmo tempo, dará a ele condições de perceber algumas armadilhas criadas por determinados veículos e jornalistas que estão submetidos a interesses outros, não científicos, que contrariam os princípios da ética e as boas práticas profissionais.

A comunicação da ciência exige, acima de tudo, daqueles que se dispõem a praticá-la um compromisso permanente com a consolidação da cidadania. Num país onde o ensino formal de ciências é ainda precário, a divulgação da ciência desempenha um papel fundamental.

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.