A sigla ESG significa mesmo alguma coisa, ou não passa apenas de mais um modismo?

O mundo dos negócios busca, recorrentemente, agregar novas práticas e novas posturas e, recentemente, colocou para circular com intensidade mais uma, representada pela sigla em inglês ESG. O que ela significa?
Vamos lá: ESG incorpora as práticas ambientais (E), sociais (S) e de governança (G), reconhecidamente importantes porque permite às organizações e empresas consolidarem a sua sustentabilidade.
Engana-se, de forma apressada, quem julga que estes parâmetros modernos sejam de interesse apenas dos executivos financeiros e dos investidores, preocupados com o impacto da atuação das empresas, visto que, quando ele se mostra negativo, certamente acarreta prejuízos que costumam doer no bolso e na alma dos empresários e dos acionistas.
Como vimos no caso do Carrefour, envolvido até o pescoço com o assassinato de um cliente negro (João Alberto) pelos seguranças de uma de suas lojas em Porto Alegre/RS, há certas posturas (ou falta de compostura ética e humanidade) que comprometem também, e intensamente, a imagem e reputação e, em consequência, a receita das empresas. Para não deixar barato, Carrefour merece todas as críticas e precisa pagar caro por este episódio terrível, que não é o único do portfólio negativo da companhia!
Os investidores, hoje em dia, buscam estabelecer métricas de todo tipo para avaliar o grau de risco para os seus investimentos e, em geral, essas métricas ou indicadores têm sido associados a estes três pilares: ambiental, social e relativo à governança.
Como acentua Marina Grossi, presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, “métricas ambientais ajudam o investidor a entender o relacionamento da empresa com o mundo natural e a sua dependência de recursos naturais. Métricas sociais ajudam os investidores a entender onde potenciais preocupações podem em relação a direitos humanos, relações trabalhistas, comunidades e com o público. Companhias com boa governança são mais confiáveis e menos propensas a ceder para corrupção ou coerção.”(https://cebds.org/esg-as-tres-letras-que-estao-mudando-comportamento-os-investimentos/)
As questões sociais têm estado no foco das organizações e da sociedade nos últimos anos, no Brasil e no mundo todo, em especial as que envolvem os preconceitos de gênero, raça e orientação social, de modo que não fazer a lição de casa em relação a elas pode representar ônus muito elevado.
O antirracismo, o combate à homofobia e ao feminicídio têm desencadeado movimentos importantes no mundo inteiro e a defesa de um programa de diversidade corporativa se impõe com contundência.
Nossa história recente está contaminada por escândalos de corrupção, por um racismo estrutural e pela desigualdade da relação de gênero (homem x mulher) e, cada vez mais, a sociedade cobra medidas urgentes para superá-los. Infelizmente, os reclamos da opinião pública nem sempre atendidos por governantes e grupos que legitimam estes crimes inaceitáveis.
Vamos deixar claro: não há mais espaço para violências de qualquer ordem, sejam elas físicas ou morais, porque elas atentam contra a democracia e a cidadania.
Como o mundo dos negócios, ao longo do tempo, tem incorporado modismos, com promessas de mudanças em direção a um futuro mais justo e solidário, mas, na prática, não as tem cumprido, é melhor ficar de olho para confirmamos se não se trata de mais uma sigla que vai ser abandonada no meio do caminho.
Estamos fartos de exemplos de discursos que não se realizam na prática e não pactuamos com narrativas hipócritas ou falsas com o objetivo de enganar a sociedade e os cidadãos. Já tivemos outras siglas como essa que não vingaram porque não passavam de recursos da retórica empresarial.
Que os princípios ESG realmente prevaleçam e não se definam apenas como mais um entulho discursivo, que, após muito ruído, vai acabar silencioso no fundo do baú. Continuemos vigilantes.
Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.