As percepções dos brasileiros sobre a internet: muitas vantagens, mas também fonte de problemas

Uma série de reportagens publicadas recentemente pela Folha de S. Paulo (9 de julho de 2022) trouxe informações relevantes da Pesquisa Nacional Data Folha sobre comportamento e consumo na internet e que merecem a atenção de estudiosos, profissionais e pesquisadores em comunicação e mesmo de outras áreas (educação, ciência e tecnologia, sociologia, psicologia, dentre outras).
Três focos principais podem ser destacados:
1) o interesse dos brasileiros por se manterem conectados e o tempo que dispendem nas redes;
2) as mídias sociais que merecem maior adesão e
3) a contribuição das redes sociais para a relação familiar.
O principal incentivo para a presença dos brasileiros na internet, segundo a pesquisa, é permanecer “informado sobre o que se passa no mundo”, indicado por 87% dos entrevistados. Outros fatores, também relevantes, mencionados pelos brasileiros são: desenvolver atividades relacionadas ao trabalho (72%), manter contato com pessoas que pensam e gostam das mesmas coisas (65%), defender de posições sobre as coisas que eles acreditam (61%), contatar os familiares e os amigos (56%).
Em média, os jovens entre 16 e 24 anos são os que passam maior tempo conectados à rede (74% dizem que permanecem ligados a ela durante a maior parte do dia) e essa proporção se reduz nas faixas etárias mais elevadas (apenas 22% das pessoas com mais de 60 anos confessam estar conectados durante boa parte do seu tempo).
A adesão às redes sociais é quase total: só 6% dos entrevistados não dispõem de redes sociais (na faixa dos 16 aos 24 anos, a adesão é de 99%!). O WhatsApp predomina em todos os estratos sociais, em todas as regiões do país, e é, de longe, a opção preferida, seguido pelo Instagram, com o Telegram aparecendo logo atrás. Mas não é possível ignorar a adesão ao Tik Tok, porque o aplicativo chinês é apreciadíssimo sobretudo pelos mais jovens. Segundo a pesquisa, as redes baseadas em vídeos, como Tik Tok e Instagram, “afastam os mais velhos”, que preferem (pelo menos por enquanto!), as plataformas tradicionais.
A pior avaliação dos entrevistados em relação à contribuição das redes contempla duas situações: a polarização/discussão de natureza política e as relações familiares, que, segundo eles, não trazem vantagens, muito pelo contrário. Para os brasileiros, a maneira de se relacionar com a família melhorou com a internet em apenas 49% dos casos (menos do que a metade) e de debater política vale a pena em 45%, ou seja, na prática a discussão de temas políticos não é bem recebida.
Os dados da pesquisa são realmente interessantes e deveriam ser levados em conta por todos que estão na rede, mas sobretudo pelos meios de comunicação, pelos produtores de conteúdo em geral, pelos partidos políticos e candidatos, pelos educadores e pelos especialistas em tecnologia da informação e comunicação.
A gestão competente da comunicação requer de empresas, instituições, governos e mesmo das pessoas individualmente o acesso a informações confiáveis que possam subsidiar o trabalho de produzir e consumir informações. Neste sentido, o material resultante da Pesquisa Nacional DataFolha sobre comportamento e consumo na internet traz contribuição significativa e deve ser consultado com interesse.
É bem verdade que a dinâmica da comunicação contemporânea se caracteriza pela mudança contínua e que, mais à frente, se levantamentos como esse forem realizados, poderemos encontrar novidades, em especial sobre as redes sociais de preferência (lembra-se: o Orkut já teve o seu reinado e o Facebook uma maior adesão!).
A análise da realidade comunicacional não pode se basear em impressões, mas em dados gerados por pesquisas, em evidências resultantes de fatos reais, ainda que estejamos sofrendo, atualmente, o impacto do processo de disseminação de informações não verdadeiras. Checar as informações, privilegiar os estudos sérios e evitar as fake news: este deve ser o compromisso de todos nós. Mas, reconhecemos, tem muita gente preferindo o caminho inverso, inspirada no exemplo desabonador de governantes, parlamentares e outros inimigos da verdade. Que eles sejam descartados, ignorados e denunciados por esta atitude irresponsável.
Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.