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As verdadeiras ameaças à comunicação interna não são as mídias sociais, mas as chefias autoritárias

Tem sido cada vez mais frequente encontrar pessoas, inclusive comunicadores, que defendem a tese de que as mídias sociais estão liquidando com a comunicação interna porque permitem que as informações nelas veiculadas ultrapassem os limites físicos (os muros) de uma empresa ou organização.

Muita calma nessa hora. É bem verdade que, se um funcionário ou servidor utilizar as mídias sociais, que podem ser acessadas para fora da organização, para divulgar informações internas sigilosas, elas se tornarão públicas, mas daí concluir que a comunicação interna foi para o beleléu é generalizar demais.

Aqueles que dominam o conceito de comunicação interna não cometerão este equívoco formidável, porque, como temos insistido, a comunicação interna é um processo e não se reduz aos veículos utilizados para disseminar informações. Ela abrange todas as interações realizadas em uma organização, compreende todos os fluxos de comunicação, inclusive os que são implementados à revelia dos canais oficiais (portais, intranets, mídias sociais em geral, murais, jornais, revistas e boletins internos), como aquele que define a chamada comunicação interpessoal (o “boca a boca”, o “olho no olho” funcionam, sabia?).

A comunicação interna não diz respeito apenas à relação dos gestores com os seus subordinados: mas, também e principalmente, à interação dos funcionários (ou servidores) entre si, ou seja, em uma comunicação interna democrática e dialógica, os “não chefes” também são protagonistas do processo de comunicação.

Além disso, em muitas organizações, especialmente aquelas nas quais o processo de comunicação é assumido em sua abrangência, as mídias sociais desempenham papel relevante no fortalecimento da comunicação interna e não para a sua degradação. As diversas plataformas, como o WhatsApp, podem promover o diálogo entre os funcionários (ou servidores) e, se utilizadas de forma competente, favorecem o seu engajamento e a participação no debate de questões de interesse das organizações.

As mídias sociais, quando operacionalizadas segundo princípios éticos e comprometidos com os objetivos institucionais, contribuem para construir uma cultura organizacional saudável e produtiva. Logo, estão longe de se constituírem em uma ameaça à sobrevivência da comunicação interna.

Toda generalização, formulada, apressadamente, sem uma reflexão maior, acaba penalizando o entendimento verdadeiro dos conceitos e não contribui para a definição de ações, estratégias e produtos que têm como propósito fortalecer a comunicação.

Devemos reconhecer o papel das mídias sociais e não, demonizá-las, porque, na prática, elas são operacionalizadas pelas pessoas, a quem devemos, se for o caso, responsabilizá-las pelo seu uso indevido.

É mais razoável, em vez de “bater no lombo das mídias sociais”, examinar as verdadeiras razões pelas quais uma comunicação interna não funciona. Devemos, isso sim, reconhecer que ela está absolutamente comprometida em culturas organizacionais autoritárias, que batem palmas para chefias que não incentivam a participação, não respeitam a divergência de ideias e opiniões e que vivem o tempo todo culpando uma suposta “rádio peão” pelas mazelas da comunicação interna.

A elaboração de um código de ética competente, consensuado internamente, e de um Guia de Gestão das Mídias Sociais, para destacar a importância de boas práticas, podem contribuir para vitalizar a comunicação interna. Quem se dispõe a andar armado para espancar as mídias sociais vive à procura de fantasmas.

Está na hora de rever os conceitos e práticas. Choramingar pelos cantos não resolve os problemas (que existem mesmo!) no processo da comunicação interna.

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.