Comunicação pública e divulgação científica: as universidades frente aos novos desafios
As universidades públicas têm prestado contribuição importante para a divulgação de informações, resultados de pesquisas e projetos de investigação em ciência, tecnologia e inovação.
Apesar das dificuldades inerentes à crise econômica que atravessamos, sobretudo durante o auge da epidemia da Covid-19, e da falta de consciência de governantes que dialogam com o negacionismo, as universidades, como os demais centros produtores de conhecimento (institutos e empresas de pesquisa, institutos federais), têm buscado soluções para reafirmar o seu comprometimento com a popularização da ciência.
As estruturas de comunicação das nossas universidades públicas têm se fortalecido, ainda que em ritmo menor do que seria ideal, e seus gestores principais, gradativamente, se despertam para a importância do processo de interação com a sociedade.
É fundamental, no entanto, admitir que ainda há muitos desafios a superar, como:
a) consolidar a proposta de uma comunicação efetivamente estratégica, o que significa dispor de uma Política de Comunicação, consensuada internamente, e implementar investimentos em recursos humanos e tecnologia, além de instrumentalizar mecanismos que permitam avaliar a eficácia de sua comunicação
b) expandir a sua atuação para além dos seus públicos costumeiros, quase sempre limitados aos seus pares (docentes, pesquisadores e estudantes) e à parcela da população que dispõe de nível de instrução superior.
Podemos citar a esse respeito, estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), publicado em importante revista acadêmica internacional - Journal Of Science Communication. Ela analisou a comunicação pública e a de ciência e tecnologia levadas a cabo por mais de 50 instituições universitárias que representam mais de 70% das existentes no país.
Dentre as principais conclusões deste estudo, que mereceu reportagem competente da revista Pesquisa Fapesp, em edição de novembro de 2024, assinada por Sarah Schmidt , podemos destacar exatamente o fato de que, na opinião de 72,5% das universidades, “a maior parte do público que acessa e se engaja com suas informações de C&T tem perfil acadêmico”. Uma porcentagem significativa delas não sabe ao menos identificar aqueles que acessam as suas notícias sobre ciência, tecnologia e inovação.
A matéria informa, também, que “cerca de 30% delas não monitoram suas ações de comunicação. Das que o fazem, a maioria (55%) não as acompanha de maneira sistemática, com regularidade e periodicidade. Apenas 17,6% usavam ferramentas profissionais, que permitem análises mais completas do que as fornecidas pelas plataformas de redes sociais. E só 13,7% afirmaram ter indicadores próprios de acompanhamento, com objetivos específicos de interesse, de acordo com suas estratégias de comunicação.”
c) dialogar de maneira mais produtiva com a sociedade, buscando propor soluções concretas e contribuir para a implementação de políticas públicas (linguagem simples, acessibilidade, promoção da diversidade e inclusão);
d) incentivar uma visão crítica dos vários tipos de “washing” (greenwashing, racismowashing) e desenvolver pesquisas e estudos para identificar estes desvios éticos e denunciá-los;
e) contribuir para o combate à desinformação e o fortalecimento da ética na comunicação (enfrentar os lobbies, uso não ético da tecnologia, como a IA), estabelecendo parcerias com empresas, entidades e meios de comunicação que já se utilizam de sistemas de checagem de informações.
d) utilizar mais amplamente as mídias sociais e, sobretudo, não se limitar a apenas disponibilizar nas suas plataformas informações de C&T&I, mas de interagir com os seus seguidores, buscando identificar suas demandas e expectativas;
e) estabelecer parceria com jornalistas, comunicadores e meios de comunicação, com objetivo de realizar cursos de atualização e aperfeiçoamento que abordem temas de C&T&I e de promover eventos conjuntos para debater, precisamente, os desafios e os entraves ao incremento da divulgação científica no Brasil. Dedicar, especialmente, atenção para a utilização de canais que sejam acessados pelas populações mais vulneráveis e com menor nível de instrução e de alfabetização científica.
As universidades públicas têm papel importante a desempenhar no processo de democratização do conhecimento científico e devem estar capacitadas, como afirma a reportagem da Revista Pesquisa Fapesp, para “furar a bolha acadêmica”, sair do isolacionismo e aumentar o diálogo com a sociedade. Com isso, elas favorecem uma participação maior dos cidadãos em geral nos debates de temas atuais e relevantes, contribuindo para a implementação de políticas públicas sintonizadas com o interesse público.
As universidades públicas, diferentemente do que proclamava, de forma irresponsável, um governante arauto das pseudociências e da desinformação, não promovem balbúrdia; muito pelo contrário: elas enriquecem a cultura, a educação, a pesquisa, a ciência e a tecnologia brasileira.
Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.