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Magalu e eleições tiram a imprensa do armário. A democracia brasileira agradece a iniciativa

A iniciativa do Magazine Luiza (Magalu) de criar um programa de treinamento para formação de lideranças, voltado apenas para negros, tem desencadeado um debate acirrado na sociedade e na mídia, muitas vezes contaminado por posições secularmente preconceituosas.

A decisão da Magalu acabou merecendo, inclusive, um processo de judicialização, porque representantes da Justiça decidiram processar a empresa, alegando discriminação contra os brancos, num embate que tende a ganhar, com maior intensidade, as várias instâncias do Poder Judiciário.

Parcela significativa da imprensa, ainda que abra espaço para os dois lados, já escolheu o seu: vê com bons olhos a iniciativa e a tem utilizado como gancho para pautas sobre o racismo estrutural no Brasil.  Mais ainda: ampliou esse leque e passou a apoiar mais decisivamente a luta contra a discriminação e a violência em relação às mulheres, aproveitando as eleições que estão aí.

Reportagens em profusão têm sido publicadas sobre racismo, sobre a reduzida participação das mulheres no mundo político, no mundo empresarial e em vários setores (inclusive na Justiça, na Polícia) O debate corre solto, alimentado pelo crescimento de estatísticas que legitimam essa discriminação/perseguição), durante a quarentena provocada pela Covid-19.

Novos episódios têm surgido, como o caso do Robinho, jogador contratado pelo Santos Futebol Clube, e que foi obrigado a se retirar do time após a constatação de que teve uma postura detestável, odiosa, na Itália, participando de um estupro coletivo em uma boate daquele país e que teve como vítima uma jovem albanesa. Gravações de sua reação diante do episódio tornaram a sua situação insustentável e só nos resta esperar que ele e seus parceiros no crime sejam exemplarmente punidos. E a gente sabe que existem milhares de Rubinhos rodando pelo Brasil afora, uma ameaça permanente às mulheres brasileiras.

Enfim, a mídia saiu mesmo do armário e resolveu contribuir com informações e depoimentos para pautar o tema, cutucar a Justiça, incentivando a adoção de políticas públicas que estejam atentas às desigualdades e preconceitos de gênero e de raça em nosso país.

O feminicídio tem crescido de forma vertiginosa, assim como a violência policial contra os negros, especialmente os pobres, reforçando a tese de que temos sido coniventes com essa situação que nos envergonha e que exige medidas urgentes das autoridades.

É possível esperar que este debate traga resultados concretos na luta contra a discriminação, mas temos assistido, ao longo do tempo, retrocessos condenáveis depois que a “poeira começa a se assentar”, com todo mundo lavando as mãos e fingindo que nada acontece. Tudo permanece, como diz o ditado, “como dantes no quartel de Abrantes” e é necessário estarmos mobilizados para que, definitivamente, como civilização possamos dar um passo à frente. Vale a pena citar um outro ditado: “Há algo de podre no reino da Dinamarca” (Shakespeare, em Hamlet), essa Dinamarca desigual e preconceituosa chamada Brasil!

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.