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Na comunicação das universidades, a ciência não aparece bem na fita

Desde longa data, estamos repetindo uma verdade incontestável: as universidades brasileiras, responsáveis pela maioria esmagadora da produção científica em nosso país, não têm feito esforço adequado para divulgar os resultados de suas pesquisas junto aos cidadãos. Com isso, sua contribuição valiosa para a ciência, tecnologia e inovação acaba não sendo reconhecida pela sociedade, ao mesmo tempo em que, com essa atitude, elas comprometem o processo de democratização do conhecimento científico. No caso das universidades públicas, não há justificativa para a não prestação de contas sobre os investimentos em pesquisa, e há um risco inerente a esta omissão imperdoável: aumentar a má vontade de autoridades em relação às instituições oficiais que produzem conhecimento, o que, neste momento, é bastante evidente.

É verdade que algumas poucas exceções fogem a essa regra e é fundamental incluir, dentre elas, as universidades paulistas (USP, Unicamp e Unesp), cujos exemplos deveriam ser seguidos. Da mesma forma, costumam merecer menção obrigatória outras instituições (empresas, institutos de pesquisa etc) que estão empenhadas em compartilhar os resultados de seus trabalhos, como a Embrapa, o Fiocruz, o Ipea e o Inpe, para só citar 4 casos.

Levantamento realizado por um grupo de professores e pesquisadores da UEL (Universidade Estadual de Londrina), comandado pelo professor André Azevedo da Fonseca, do Centro de Educação, Comunicação e Artes, confirmou que os portais das universidades brasileiras dão mais atenção a eventos internos do que à divulgação de C&T&I e, como resposta a isso, está lançando o Portal Brasil Ciência (brasilciencia.com.br), “uma plataforma criada para apoiar a divulgação das pesquisas científicas realizadas nas universidades públicas brasileiras.”

Em artigo publicado em 2014 na revista Ação Midiática, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPR, com o título “ A divulgação da produção científica no Brasil: a visibilidade da pesquisa nos portais das universidades brasileiras” (https://revistas.ufpr.br/acaomidiatica/article/view/36340), chamava a atenção para o fato de que os projetos de investigação permanecem, quase sempre, na invisibilidade e que, com isso, pelo menos a partir deles, não é possível, para os stakeholders e para a sociedade, aquilatar os investimentos e os resultados dos trabalhos desenvolvidos pelos seus pesquisadores. Lembrava também que, comparativamente, ao ensino e à extensão, a pesquisa tem espaço reduzido, às vezes quase inexistente, no esforço de divulgação das nossas universidades.

É preciso, urgentemente, reverter este cenário e, para tanto, convocamos os gestores das nossas universidades públicas e os colegas que integram as suas estruturas profissionalizadas de comunicação (de reconhecida competência) a estabelecerem um compromisso inadiável com a divulgação científica e o jornalismo científico.

É fundamental produzir ciência, tecnologia e inovação e nossas universidades cumprem bem esse papel, mas é também imprescindível tornar públicos os resultados dos projetos de investigação. Com este esforço, conseguiremos a adesão da sociedade à luta permanente por maiores investimentos em C&T&I, vitais para o desenvolvimento do país e para a afirmação da nossa soberania. Como diz o ditado popular: inteligente é a galinha que bota o ovo e cacareja em seguida, anunciando em alto e bom som, o resultado do seu trabalho. Ficar em silêncio não é, sobretudo na atualidade, uma boa alternativa.

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.