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O combate à desinformação exige uma parceria entre a comunidade científica e a sociedade. Vamos nessa?

A desinformação, resultado da má fé de pessoas ou grupos não comprometidos com as evidências científicas, e a ingenuidade de cidadãos não informados, representa, certamente, um dos maiores problemas contemporâneos. Em muitos casos, quando as notícias falsas se reportam a temas ou assuntos sensíveis, como a saúde, o meio ambiente e o impacto das novas tecnologias, os prejuízos são incalculáveis. Pudemos perceber durante a pandemia da Covid 19, com a atuação irresponsável dos arautos da cloroquina e dos que aderiram ao movimento antivacina, os prejuízos causados para a saúde dos brasileiros e que se estendem até hoje.

Felizmente, parcela significativa comunidade científica, entidades responsáveis da sociedade civil e, inclusive, veículos e jornalistas, dentre outros segmentos da sociedade, têm estado mobilizados para enfrentar o negacionismo e a desinformação, mas, evidentemente, este esforço precisa ser ampliado e mantido permanentemente.

Neste sentido, A Academia Brasileira de Ciências, em livro que acaba de ser lançado, intitulado “Desafios e estratégias na luta contra a desinformação científica”, chama a atenção para a necessidade imediata de desenvolver ações competentes visando neutralizar este movimento negacionista, ao mesmo tempo em que reforça, junto à opinião pública, a importância do conhecimento científico e de sua divulgação.

Reportagem de Herton Escobar, publicada na semana passada (20/06) pelo Jornal da USP, destaca alguns alertas emitidos pelos organizadores da obra, como, por exemplo, o compromisso obrigatório dos pesquisadores e dos centros produtores de conhecimento (universidades, institutos federais e de pesquisa) com a capacitação para o processo de divulgação científica. Segundo a publicação, “é preciso oferecer treinamentos de mídia a cientistas, bem como incentivar a criação de agências voltadas para a divulgação da ciência. Da mesma forma, é essencial que projetos de pesquisa prevejam a contratação de profissionais especializados em divulgação científica para relatar de maneira eficaz os avanços dos estudos, tornando a ciência mais acessível e compreensível para o público em geral.”

A proposta da ABC defende o fortalecimento da comunicação pública como antídoto contra as narrativas falsas que contrariam a ciência e que contribuem, inclusive, para ameaçar a democracia brasileira.

A luta contra a desinformação representa, portanto, em essência, um ato político e tem como objetivo frear a intenção nefasta de fazer circular informações não confiáveis para atender aos negacionistas de plantão e lobbies empresariais, um movimento reforçado pelas potencialidades oferecidas pela comunicação digital e as mídias sociais.

A ABC reconhece, de maneira contundente, que “o contexto das plataformas digitais, especialmente as mídias sociais, ampliou essa problemática, fornecendo um ambiente propício para a rápida disseminação de desinformação científica. A estrutura algorítmica dessas plataformas tende a favorecer conteúdos sensacionalistas e enganosos, criando um ecossistema lucrativo para a desinformação.”

O livro da ABC faz uma série de recomendações para fortalecer o processo de enfrentamento à desinformação, como a promoção da divulgação científica, o fortalecimento da comunicação pública das instituições científicas, a educação midiática e científica, a realização de pesquisas para avaliar o impacto da desinformação em temas sensíveis, como a saúde. Ele defende, ainda, o incremento do jornalismo científico e a parceria com a sociedade civil para regulamentar a atuação das plataformas digitais. As big techs (há alguma dúvida sobre isso?), têm optado pelo aumento dos seus lucros em detrimento da informação verdadeira e responsável.

Os interessados na leitura da obra poderão fazer o download gratuito a partir do site da Academia Brasileira de Ciências, mais precisamente pelo LINK.

Siga o link para a excelente reportagem publicada pelo Jornal da USP.

É preciso combater, com urgência, e de forma permanente, a onda negacionista que ameaça a construção de uma verdadeira democracia.

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.