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O crescimento da informação digital e a ação nefasta da “tropa cibernética”

A pandemia tem criado obstáculos gigantescos para a economia e a saúde em todo o mundo e, praticamente, nos tornado reféns de um vírus, cada vez mais mutante e traiçoeiro. Secundariamente, tem provocado alterações importantes nos processos de comunicação, confinando-nos à prática do home office e ao uso intensivo das tecnologias digitais.

Podemos apontar, neste período, dois fatos que evidenciam mudanças significativas no universo das notícias que tem revolucionado o sistema de produção, circulação e consumo de informações.

Em primeiro lugar, como indica estudo da Comscore, empresa de análise de audiência, a quarentena, que se iniciou em 2020 e se prolonga por quase um ano, alavancou o consumo de mídia digital na América Latina, estimulado pela adoção do ensino a distância, pela aceleração dramática do processo de produção de mensagens pelas mídias sociais e pela utilização de plataformas digitais, como o Google Meet e o Zoom, dentre outras.

O estudo revelou também que o tempo investido em aplicativos, serviços e conteúdo digital consolidou o domínio dos celulares e tablets e propiciou o crescimento do Instagram como rede social. Na comparação entre hábitos de produção e consumo de informação digital na América Latina, o estudo constatou também que as postagens realizadas por brasileiros nas mídias sociais são as que geram mais interações (likes, em particular) e que há um crescimento importante da presença dos influenciadores. Neste caso, os jogadores de futebol se destacam, quando considerada a região como um todo, mas merecem menção também os cantores, personalidades da TV e aqueles que focam questões ligadas à moda e à beleza.

Em segundo lugar, é necessário ressaltar a pesquisa realizada pela Universidade de Oxford que comprovou, de forma definitiva, a intensificação do processo denominado de “propaganda computacional e desinformação industrializada” na maioria dos países, dentre eles o Brasil. Este processo se caracteriza sobretudo pela disseminação ampla de fake news que favorecem a polarização política e a circulação de informações equivocadas e imprecisas, quase sempre de maneira voluntária, sobre ciência e, em particular, sobre a pandemia do coronavírus.

A autoria destas mensagens falsas está associada, como explica o estudo, à ação frenética de “tropas cibernéticas” que defendem posturas inadequadas de governos e políticos em geral e, em muitos casos, buscam atacar os jornalistas que ousam denunciar ameaças à democracia e os especialistas que estão comprometidos com as evidências científicas para explicar a origem e o combate à Covid-19.C

A desinformação nas redes sociais tem crescido há mais de uma década pela atuação destes grupos organizados, mas ganhou corpo durante a pandemia. Estima-se que cerca de 60 milhões de dólares já foram gastos neste esforço para promover a desinformação, com o incremento do número de empresas criadas com este objetivo.

É fundamental estar atento a estes fatos, sobretudo porque eles têm impacto significativo no cenário comunicacional brasileiro, dando guarida à constituição de “milícias cibernéticas” (vide o nosso malfadado “gabinete do ódio”) que promovem a desinformação e degradam a imagem de pessoas e instituições.

Urge atualizar a legislação contemplando os crimes cibernéticos e mobilizar a sociedade para a avaliação contínua do impacto do processo de informação digital. O universo da comunicação mudou de paradigma e é indispensável adaptar-nos às novas circunstâncias em nome da democracia e da saúde.

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.