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O governo reconheceu finalmente a importância de uma Política de Comunicação? Será bom, se for verdade

Depois de inúmeros desencontros, fruto da falta de articulação entre as várias instâncias que compõem o Governo Federal (especialmente, seus ministérios), parece que, em particular o presidente Lula, se deu conta de que os riscos e os prejuízos derivados desta condição têm que ser superados.

Para qualquer empresa ou organização, é fundamental que as várias áreas que a compõem definam e pratiquem uma proposta de comunicação que tenha como características essenciais a perspectiva integrada e estratégica. A fragmentação das ações de comunicação torna as organizações vulneráveis e não contribui para legitimar a unidade, para formar uma identidade e é isso, infelizmente, que, até agora, caracteriza a ações do Governo Federal.

Os ministérios agem como se fossem territórios isolados, competindo um com o outro, estimulados pela tentativa de cada ministro de se destacar, especialmente junto à mídia, visando fortalecer a sua própria imagem. Todos os dias surge uma ideia inovadora que não tem chances de se concretizar e que, por isso, é prontamente descartada, depois, evidentemente, de ser debatida amplamente pela imprensa e por grupos organizados da sociedade.

Todos sabemos que não se pode imaginar que o presidente tenha conhecimento técnico do que significa, na prática, uma Política de Comunicação, porque ele está acostumado a uma gestão que privilegia uma lógica individualista e não de equipe, em que todos obedecem a um único chefe.

Além disso, falta o reconhecimento efetivo da importância dos comunicadores profissionais, ativo valioso de que dispõe, hoje, o Governo Federal, se considerados os seus ministérios, os seus institutos de pesquisa, as suas universidades, os seus institutos federais, secretarias, dentre outros.

É indispensável que o atual Governo assuma os gestores da comunicação pública e os profissionais de comunicação em geral, como protagonistas e que, sobretudo, busque recompor a estrutura de comunicação absurdamente penalizada pela visão estreita, preconceituosa, nefasta do ex-presidente, inimigo da imprensa e dos comunicadores públicos.

A comunicação pública precisa ser fortalecida, com a reconstituição da estrutura profissional, com a abertura de concursos públicos para a contratação de profissionais de comunicação, e, também, com a modernização dos sistemas de comunicação que devem estar sintonizados com os desafios da comunicação digital e com o interesse da sociedade.

Os ministérios, os institutos, as universidades, as empresas públicas precisam elaborar e implementar Políticas de Comunicação que incrementem a visibilidade das suas ações e consolidem a sua imagem e reputação.

Os gestores de comunicação (diretores, assessores, superintendentes, gerentes, coordenadores) devem seguir o exemplo de algumas instâncias federais (empresas, institutos de pesquisa, institutos federais, universidades) e, imediatamente, se mobilizarem para a elaboração de uma Política de Comunicação, construída de forma coletiva e democrática.

A comunicação deve ser assumida efetivamente como estratégica e não se limitar, como tem acontecido na maioria dos casos, a uma perspectiva essencialmente operacional. As atividades de comunicação devem ser desenvolvidas com o respaldo de diretrizes, estratégias discutidas amplamente e consolidadas no documento básico que define uma verdadeira Política de Comunicação.

Há bons exemplos na área federal e é fundamental citar a Fiocruz, a Embrapa, muitas universidades e institutos federais que já deram esse passo e, por isso, desfrutam de uma imagem positiva junto aos seus públicos de interesse e à sociedade.

Esperamos que esses exemplos se multipliquem e que, finalmente, possamos saudar o desejado e indispensável fortalecimento da comunicação pública brasileira que, apesar das dificuldades que têm enfrentado nos últimos anos, se destaca pela competência técnica de seus gestores e profissionais É urgente que o Governo e os representantes do chamado primeiro escalão (ministros e ministras, reitores e reitoras de universidades e institutos federais, dirigentes de órgãos públicos em geral) contemplem a nova realidade e, de uma vez por todas, reconheçam a importância da comunicação pública. Sem isso, o Governo continuará enfrentando o fogo amigo, o bate-cabeças e a falta de credibilidade que deriva, certamente, da fragmentada, confusa e desarticulada proposta de comunicação. Vamos mudar esse cenário? O Brasil só tem a ganhar com isso!

Crédito da foto: Gerd Altmann por Pixabay

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.