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O protagonismo da comunidade pode reduzir o impacto dos desastres ambientais

Estamos assistindo, novamente, nestes meses de verão, o impacto dramático das mudanças climáticas que têm contribuído para chuvas torrenciais em vários Estados brasileiros (Bahia, Minas Gerais, São Paulo, dentre outros), com danos materiais e, infelizmente, dezenas de mortos.

Na verdade, apesar da insistência das autoridades, e também da mídia, as chuvas não são as únicas responsáveis por estas tragédias porque, afinal de contas, elas sempre foram e continuarão sendo volumosas nesta época do ano. O problema é que a ausência de uma política competente de gestão de riscos e a omissão dos governos (estaduais, municipais e federal) favorecem o incremento dos prejuízos e do número de vítimas. Não dá para impedir que chova, mas não é possível evitar ou ao menos atenuar os danos causados pelos temporais?

Os especialistas garantem que sim. Faltam diretrizes para a ocupação urbana, esforços competentes para a redução das desigualdades (as pessoas que vivem em áreas de risco não estão lá porque querem) e, inclusive, um sistema de alerta, de comunicação que oriente adequadamente a população nestes momentos dramáticos.

Uma política habitacional que discipline a ocupação urbana, a adoção de medidas para conter o deslizamento de terras, para impedir a acumulação de água e o encharcamento do solo em regiões de risco contribuiriam para reduzir a dimensão destas tragédias.

A alocação de recursos por parte dos governos para proteger as pessoas que moram em áreas de risco, a fiscalização permanente para impedir a construção de residências em determinados locais, a limpeza dos rios e córregos são algumas das medidas preconizadas por quem está efetivamente comprometido com a solução do problema.

Como diz o ditado, não adianta colocar a tranca depois que a porta foi arrombada, mas é isso que sempre acontece, como temos visto. Os governos fazem propaganda (sobretudo em anos de eleição) para alardear os recursos (sempre insuficientes) que oferecem à população como medida paliativa visando à recuperação dos danos, mas as vidas perdidas nunca são recuperadas.

É fundamental favorecer o protagonismo das comunidades que podem ser afetadas por potenciais desastres ambientais, ouvindo e atendendo às suas reivindicações, com o estímulo permanente à participação. As comunidades precisam ter vez e voz e não podem ser assumidas como agentes passivos, o que representa uma perspectiva meramente assistencial, com resultados pouco eficazes.

A comunicação com as pessoas em áreas de risco não pode ser desencadeada apenas após a ocorrência dos desastres: é preciso assumir uma postura proativa, buscando identificar vulnerabilidades e construir espaços de diálogo o ano todo.

A mídia também precisa desempenhar melhor o seu papel porque, na prática, ela só dá atenção para as comunidades e cobra medidas dos governos quando as tragédias acontecem, em boa parte dos casos privilegiando a espetacularização dos acontecimentos e o aumento da audiência.

As chuvas torrenciais são apenas uma parte do problema. Culpar a natureza é, quase sempre, a única alternativa, mas, convenhamos, somos todos culpados. A solução do problema passa pela mobilização e comprometimento de todos e deve ser pensada muito antes dos meses de verão. Por que é tão difícil entender isso?

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.