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Os interesses que cercam a produção e a comercialização da vacina contra a Covid-19

Não há como negar. O desejo de todos nós, cidadãos deste planeta pandêmico, é ter acesso, o mais rapidamente possível, a uma vacina que nos permita, de uma vez por todas, liquidar com o novo coronavírus. Mas esta esperança, com certeza, não é suficiente para que a solução salvadora esteja disponível a curto prazo.

A ciência não caminha de forma tão acelerada como os nossos sonhos e desejos, porque é refém de métodos e procedimentos que, quase sempre, só se desenvolvem a contento a médio e longo prazos.

Descobrir e fabricar uma vacina para qualquer vírus, a qualquer tempo, nunca foi uma tarefa fácil e há doenças, como a Aids, também transmitida por um vírus (HIV), que, apesar de ter surgido há décadas, ainda não tem uma vacina que a torne inativa. Sim, há medicamentos que permitem (ainda bem!) uma sobrevida importante e que, para muitos casos, inibem esta doença, mas uma vacina que impeça a contaminação por este vírus, quando em contato com pessoas infectadas, não existe.

É preciso ter presente que esse não é um vírus comum, como atestam os cientistas, e que ele tem uma capacidade ímpar de se modificar e de atacar, sistemicamente, nosso organismo.

A esperança está no comprometimento de boa parte da elite científica mundial e do investimento pesado em pesquisas voltadas para a descoberta e a produção de uma vacina eficaz. Mas o processo é mais lento do que gostaríamos. Temos centenas de vacinas sendo testadas, mas menos de uma dezena delas alcançou neste momento a fase 3, considerada fundamental, porque é quando os testes clínicos são aplicados em maior escala e apontam para soluções possíveis.

Apesar da euforia de muitos governos, instituições, e até mesmo de cientistas consagrados, não podemos esperar uma vacina para este ano e estaremos comemorando (e muito) se ela chegar até o final do primeiro semestre de 2021.

Mas (sempre tem um “mas” nessas histórias complexas) o problema não se resume à intenção e ao talento dos protagonistas da ciência porque há fatores extra científicos que colaboram para tornar o cenário mais nebuloso. Temos tomado contato com posturas de determinados países que ignoram a “solidariedade planetária!” e buscam, a todo custo, exercer o seu poderio, em particular o econômico. Este é o caso dos Estados Unidos que, com a cumplicidade de laboratórios farmacêuticos, busca adquirir, antecipadamente, a maior parte (quando não a totalidade) da produção das vacinas que já estão em fase adiantada de desenvolvimento.  A jogada eleitoral e mesquinha de Trump consiste em evidenciar, para os cidadãos norte-americanos, que ele fará de tudo para que os seus compatriotas levem vantagem nessa guerra pelas vacinas, ainda que, com isso, países e populações mais pobres sejam drasticamente penalizados. Como diz o ditado, “é assim o capitalismo selvagem, seu bobo!”.

Há ainda relatos (não confirmados) de que alguns outros países (a China é a preferida nas acusações) praticam a espionagem para ter acesso a resultados de pesquisas envolvendo a descoberta e a produção de vacinas para combater a Covid-19.

Enfim, muita água ainda vai rolar por debaixo da ponte da pandemia, antes que tenhamos (se é que vamos ter, pelo menos em tempo razoável) uma vacina segura, eficaz e barata.

É melhor manter a calma, confiar na ciência, combater os defensores de medicamentos ineficazes (e até perigosos, se administrados sem critério), mas que engordam o lucro das farmacêuticas e inflam o ego de autoridades que primam pela ignorância e irresponsabilidade.

O novo coronavírus está, pelo menos, nos obrigando a entender como as coisas funcionam no mundo da ciência, em particular na área da saúde.

Está, mais claro do que nunca, que a saúde é percebida por empresas como mera mercadoria, e por governos como um apelo que frequenta discursos demagógicos e negacionistas, com objetivos nitidamente eleitoreiros.

Ainda que possa causar estresse, representar perdas (afinal de contas, quem não quer voltar à “normalidade”?), a melhor alternativa continua sendo ficar em casa, praticar o isolamento social responsável, comprometer-se com a higiene e contribuir para o fortalecimento da pesquisa científica. A vacina pode chegar (não amanhã, é claro), mas será preciso saber esperá-la com inteligência e humildade. Muita calma nessa hora e atenção para os entusiastas de plantão.

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.