Os jornalistas precisam temer a inteligência artificial?

Se você é jornalista, e costuma estar atualizado (a) com os grandes temas da área, não pode ignorar o debate amplo sobre o impacto das ferramentas e aplicações de inteligência artificial (IA) no mercado jornalístico.
Ao mesmo tempo, não deveria estar tentado a demonizar a inteligência artificial, repetindo o velho chavão de que ela tem a capacidade de destruir o mercado, substituindo, a toque de caixa, milhares ou, quem sabe, milhões de empregos.
O 24º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ), realizado, em abril deste ano, no campus da Universidade do Texas, em Austin, contou com painel dedicado ao tema Jornalismo e Inteligência Artificial, que chegou a conclusões importantes.
Os painelistas estiveram empenhados em “mudar esta chavinha de desesperança” com respeito à inteligência artificial e deixaram claro que a melhor pergunta a ser feita não é sobre o que o Jornalismo perderá com a IA, mas como poderá incorporá-la em seu benefício.
Com um bom grau de otimismo, os painelistas que participaram do debate acreditam que as aplicações de IA nesta área vão, na prática, gerar muitos empregos.
Sisi Wei, editora chefe do Markeup, acredita “que a introdução de ferramentas generativas de IA não significa que o jornalismo, como o conhecemos, irá mudar completamente. Trata-se antes de pensar como essas ferramentas podem realmente ajudar os jornalistas a fazer o que eles nunca pensaram ser possível”. Segundo ela, "cada trabalho que fez no jornalismo nos últimos 10 ou 15 anos não existia 10 ou 15 anos antes”. O que estes modelos linguísticos ou visuais fazem é apenas algo muito mais rápido do que aquilo a que estávamos acostumados. É disso que se trata... É aí que eu acho que, quanto mais criativos formos e quanto mais tentarmos fazer coisas diferentes, mais naturalmente esses trabalhos começarão a ser criados".
Outra painelista, Aimee Rinehart, diretora do programa de Inteligência Artificial e Notícias Locais da The Associated Press, garante que o momento é propício para as redações locais porque podem testar estas novas aplicações e incorporá-las à sua rotina. A concorrência contribuirá para que os preços fiquem acessíveis e desta forma, as comunidades serão brindadas com um conjunto maior de informações.
Não há dúvida de que a IA, para empresários que pensam apenas em aumentar os seus lucros, reduzindo postos de trabalho, poderá representar uma ameaça para muitos jornalistas, mas os empregos de qualidade continuarão disponíveis.
Os jornalistas competentes, e não os robôs, sabem fazer as melhores perguntas às suas fontes, bem como interpretar as respostas adequadamente e, neste sentido, continuarão insubstituíveis.
Logo que o ChatGPT foi lançado, uma corrente pessimista varreu o mercado jornalístico, alardeando perdas de emprego em massa, mas inúmeros testes realizados com esta aplicação, mostraram que a ferramenta não é tão confiável, como se poderia esperar.
Estamos muito longe de assistir a mudanças realmente dramáticas no mercado de trabalho jornalístico, ainda que não se possa negar o impacto que a IA acarretará para o desenvolvimento de muitas rotinas, notadamente as voltadas para a coleta de dados e informações e para elaboração de resumos noticiosos .A preocupação com a chegada destas ferramentas reforça a tese de que os governos, as organizações civis regularão estas aplicações de IA, mesmo porque a crítica aos algoritmos, que viciam resultados de busca de informações, é cada vez mais intensa.
Desconfiar da IA é uma boa postura, mas demonizá-la certamente não é uma boa alternativa.
Crédito da foto: PhonlamaiPhoto
Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.