Pesquisa confirma: os brasileiros se informam sobre ciência e tecnologia pelas mídias sociais. Isso é bom ou ruim?

Os brasileiros tomam contato com informações de ciência e tecnologia (saúde, meio ambiente, por exemplo) pelas mídias sociais e/ou plataformas digitais em geral, como o WhatsApp. Essa é uma das conclusões relevantes da Pesquisa de Percepção Pública da Ciência, divulgada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), uma organização que se vincula ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
A priori, nada surpreendente porque não resta dúvida de que os brasileiros se informam sobre quase todos os assuntos valendo-se, prioritariamente, destes canais de comunicação, mas os especialistas admitem que há, para esse caso particular, algumas dificuldades adicionais.
É forçoso reconhecer que a maioria dos cidadãos tem pouca familiaridade com os conceitos e teorias científicas, fruto sobretudo da precariedade do ensino de ciências em nosso país, e, portanto, fica mais difícil, para eles, contestar as informações que recebem desta área, especialmente se elas forem manipuladas no sentido de parecerem verdadeiras.
Ainda que uma parte significativa dos brasileiros duvide da veracidade das informações, e isso já é um bom sinal, porque, a princípio, os coloca em alerta diante de certas fontes, faltam a eles condições e disposição para checar de fato as informações.
Por causa disso, elas são assumidas como verdadeiras e compartilhadas, o que representa um risco enorme para o incremento da desinformação e, o que é mais perigoso, por favorecer a adoção de posturas ou decisões que possam comprometer a saúde, a qualidade de vida da população.
A campanha desencadeada nestes canais de comunicação contra a vacinação (Covid, influenza, dengue, coqueluche, dentre outras doenças), como temos visto, tem colocado em risco a eficácia da política nacional de imunização com prejuízo incalculável para os brasileiros, particularmente os mais vulneráveis (crianças, idosos).
A divulgação de informações falsas sobre mudanças climáticas (o “imperador Trump” garante que elas constituem uma “piada” e não devem ser levadas a sério!) dificulta a adoção, pela coletividade, de medidas que possam mitigar o seu impacto.
O lobby da indústria alimentícia, engrossado pela presença de influenciadores digitais a seu serviço, tem contribuído para enfraquecer a mobilização contra os alimentos ultraprocessados que penalizam a saúde dos brasileiros.
Na prática, é comum colocar a culpa toda na tecnologia, como se ela, por conta própria, pudesse ser responsável pela falta de integridade das informações sobre ciência, tecnologia e inovação, quando, na verdade, os reais culpados permanecem impunes: os negacionistas, os interesses empresariais e mesmo a má fé de pessoas e grupos que lucram, inclusive, com a circulação de fake news.
Em vez de demonizar as plataformas digitais e as mídias sociais, em particular, é necessário reconhecer que elas são importantes para o processo global de comunicação em todo o mundo e que devem ser utilizadas para alavancar um programa amplo e competente de disseminação de notícias íntegras, que esteja respaldado por fontes científicas de credibilidade e obedeça aos princípios da acessibilidade, promovendo a inclusão dos cidadãos.
As plataformas digitais e as mídias sociais devem ser mobilizadas para fortalecer o processo de divulgação científica e não para boicotá-lo e, para isso, é fundamental o esforço de educadores, pesquisadores e de profissionais responsáveis, como os jornalistas e comunicadores em geral.
A regulamentação das big techs representa etapa importante para a qualificação da cobertura de ciência e tecnologia e para impedir que este movimento global de desinformação e negacionismo continue ampliando o impacto negativo junto à opinião pública mundial.
As mídias sociais e as plataformas digitais devem ser utilizadas com competência e responsabilidade.
Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado.